A Maria faz parte dos quadros da
função pública há mais de 20 anos. Não está na secretaria por estes dias. Já
conta com 3 baixas psiquiátricas no currículo. Depressão diz o relatório. O
Inácio, mais sonolento a cada dia que passa, não dorme 3 horas seguidas vai
para um ano. À noite, apaga a luz e acende-se a angústia. As preocupações, que
o cansaço e a ocupação vão adormentando durante o dia, vêm em catadupa na hora de dormir. Parte da fatura tem sido paga pelas máquinas
industriais: a rapidez e eficiência com que sempre as reparou e afinou têm
vindo a diminuir a olhos vistos. As linhas de produção ressentir-se-ão em
breve. E, com elas, a faturação da empresa.
Vinha correndo bem a vida ao jovem Bernardo. O MBA numa Business School
de renome abriu-lhe as portas de uma multinacional de sucesso. Os contratos
avultados de exportação que conseguiu fechar aceleraram-lhe o futuro promissor
na gestão. Mas a ascensão meteórica está agora entalada. No 1º semestre do ano,
não conseguiu um único novo cliente internacional. Não, não perdeu a visão
estratégica nem o tato para o negócio. Mas as horas antes das reuniões com os
clientes passaram a ser ocupadas por 1001 estratégias para não ter de lhes
apertar a mão. As horas depois, com 1001 estratégias para que ninguém
percebesse que as ocupava, quase na totalidade, a lavar as mãos com tudo o que
é desinfetante.
A promoção da saúde mental
(através da intervenção psicológica e das psicoterapias, nomeadamente) é, antes
de mais, uma questão de humanidade e equidade social – justificação muito mais
do que suficiente para a implementação de uma estratégia sustentada de saúde mental.
Mas, na era em que tudo cabe num indicador económico, é bom lembrar o relatório da OCDE sobre esta matéria (ou, num outro plano, o estudo sobre o custo-efetividade de intervenções psicológicas em cuidados de saúde, realizado pela Ordem dos
Psicólogos Portugueses). Dele parece decorrer que os gastos com uma estratégia
sustentada de promoção da saúde mental não são bem custos. Serão antes investimento
com retorno. Às poupanças com as baixas e com prestações sociais, junta-se um
aumento da produtividade do trabalho. Nós não andávamos a precisar de apanhar
boleia na expansão económica dos últimos trimestres, para continuar a fazer crescer o PIB?!
Nota: Atendendo ao
profundo respeito pela intimidade das pessoas que me dão o privilégio de
guardar as suas histórias e aos princípios deontológicos a que estou vinculado
(de sigilo, nomeadamente), como não poderia deixar de ser, este, como todos os
textos do blogue - sendo, uma ou outra vez, inspirados num ou noutro aspeto de
histórias reais - está muito longe de corresponder a uma descrição literal.