segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A diferença faz bem à saúde!


Precisamos (todos!) do que nos ligue. Precisamos (todos!) de nos sentir parte de algo maior. Talvez seja um bocadinho isso que acontece quando, num estádio de futebol efervescente, num concerto, ou numa manifestação política ou religiosa, por exemplo, a intensidade ou a comoção parecem ligar pessoas tão diferentes entre si. Talvez precisemos, todos, desta espécie de sentimento tribal. E ainda bem! Afinal de contas, sempre foi a capacidade de nos ligarmos, apesar das diferenças, que foi tornando mais humana a humanidade. Não será, por isso, de estranhar, que gostemos (todos!) de privar com quem comungue connosco gostos, interesses, visões do mundo, ilusões, ideias e sonhos. E ainda bem! Ou não fosse a experiência de sentir que não sentimos sozinhos tão humanizante. Mas talvez não haja ligação – efetiva e profunda - sem diferença! Fecharmo-nos numa espécie de relação especular com o igual, anulando as diferenças será, em certo sentido, a negação da relação… e do outro. Um outro que, amputado da sua autonomia, surgirá mais como uma espécie de prolongamento narcísico ou de caixa de ressonância (ao bom jeito dos yes man) do que como um outro autónomo… e diferente!
   A ser assim, talvez não haja muito como haver crescimento (efetivo e profundo) à margem da diversidade e do conflito (franco, aberto e leal). Será a diferença que traz o novo, qual semente de entusiasmo onde antes havia (apenas) medo do desconhecido. Afinal de contas, de duas ideias milimetricamente iguais não resulta nada de novo. Do confronto de duas ideias diferentes poderão decorrer, pelo menos, três ideias: as duas iniciais e a que resulta da sua síntese e integração. A ser assim, o igual impele para a repetição. Já o diferente instiga para o conhecimento e para a integração (re)criadora. E estimula o pensamento e a transparência. Ou não precisássemos de digerir melhor as ideias, tornando-as mais e mais claras, de cada vez que nos queremos fazer entender perante o outro…diferente.

   A ser assim, tudo o que procure anular as diferenças - sejam os fantasmas mais pomposos do racismo ou da xenofobia ou as discriminações menos sonantes (quando a Escola cai na tentação de tomar a hierarquização das notas como primeiro critério na hora de organizar turmas, por exemplo) - não só passará ao largo de critérios éticos, como será mais amigo da repetição especular do que da curiosidade, do conhecimento, da relação e da saúde!