Precisamos (todos!) do que nos
ligue. Precisamos (todos!) de nos sentir parte de algo maior. Talvez seja um
bocadinho isso que acontece quando, num estádio de futebol efervescente, num
concerto, ou numa manifestação política ou religiosa, por exemplo, a
intensidade ou a comoção parecem ligar pessoas tão diferentes entre si. Talvez
precisemos, todos, desta espécie de sentimento tribal. E ainda bem! Afinal de
contas, sempre foi a capacidade de nos ligarmos, apesar das diferenças, que foi
tornando mais humana a humanidade. Não será, por isso, de estranhar, que gostemos
(todos!) de privar com quem comungue connosco gostos, interesses, visões do
mundo, ilusões, ideias e sonhos. E ainda bem! Ou não fosse a experiência de
sentir que não sentimos sozinhos tão humanizante. Mas talvez não haja ligação –
efetiva e profunda - sem diferença! Fecharmo-nos numa espécie de relação
especular com o igual, anulando as diferenças será, em certo sentido, a negação
da relação… e do outro. Um outro que, amputado da sua autonomia, surgirá mais
como uma espécie de prolongamento narcísico ou de caixa de ressonância (ao bom
jeito dos yes man) do que como um
outro autónomo… e diferente!
A ser assim, talvez não haja muito como haver crescimento (efetivo e
profundo) à margem da diversidade e do conflito (franco, aberto e leal). Será a
diferença que traz o novo, qual semente de entusiasmo onde antes havia (apenas)
medo do desconhecido. Afinal de contas, de duas ideias milimetricamente iguais não
resulta nada de novo. Do confronto de duas ideias diferentes poderão decorrer,
pelo menos, três ideias: as duas iniciais e a que resulta da sua síntese e
integração. A ser assim, o igual impele para a repetição. Já o diferente
instiga para o conhecimento e para a integração (re)criadora. E estimula o
pensamento e a transparência. Ou não precisássemos de digerir melhor as ideias,
tornando-as mais e mais claras, de cada vez que nos queremos fazer entender perante
o outro…diferente.
A ser assim, tudo o que procure anular as diferenças - sejam os
fantasmas mais pomposos do racismo ou da xenofobia ou as discriminações menos
sonantes (quando a Escola cai na tentação de tomar a hierarquização das notas
como primeiro critério na hora de organizar turmas, por exemplo) - não só passará
ao largo de critérios éticos, como será mais amigo da repetição especular do
que da curiosidade, do conhecimento, da relação e da saúde!