A Psicologia e a Psicanálise
Clássicas abriram avenidas na compreensão das relações humanas, da
parentalidade e das relações familiares. Mas, por mais que, em tantos e tantos
aspetos, tenham estado à frente do seu tempo (dando um empurrão ao mundo
criativo que pula e avança), não deixaram (inevitavelmente!) de também beber
influências de uma ideia clivada de família, organizada em torno de um “polícia
bom” que protegia e cuidava, e de um “polícia mau” e distante que garantia a
Lei. Talvez por isso, o pai foi sendo conceptualizado como o terceiro, que
abria a relação (mais ou menos fusional) mãe-filho à diferença e à realidade.
Não sendo avanço pequeno na ciência nem função pouco importante a do pai, não
deixava, ainda assim, de secundarizar o seu papel no desabrochar das
extraordinárias competências do bebé…
Mas, num mundo que pula e avança, há muito que vários modelos da
Psicologia e da Psicanálise Contemporâneas (com conceitos como o de “tríade
originária” de Chbani e Perez-Sanchez, por exemplo) me parecem sugerir que
modelos integrados de família (e de sociedade) são mais amigos da saúde e do
crescimento.
Num mundo que pula e avança,
felizmente as mulheres conquistaram as universidades e o mundo do trabalho e exigem
(exigimos todos!!!) a justíssima igualdade de direitos. Num mundo que pula e avança, felizmente, os homens exigem o
direito de cuidar, de se comoverem e de serem sensíveis, próximos e afetuosos (lembrando,
aos mais distraídos, que o seu coração também bate do lado esquerdo, ou que a
condição masculina não é sinónimo de menos competências parentais). Neste
contexto (como em muitos outros), menos clivagem significará mais
saúde. Nesta lógica, tal como o colo, o mimo e a abertura à diferença e à realidade
deve ser a multiplicar por cada um dos pais, também a Lei Familiar deverá –
parece-me - resultar de um consenso mínimo entre eles, tendo, evidentemente, os
dois a obrigação de a fazer aplicar.
A ser assim, quanto mais acarinharmos e integrarmos a diferença, com a consciência de que todos temos um coração a bater do
lado esquerdo, mais inclusiva, integradora e amiga da saúde e do crescimento
será a família (na sua composição "tradicional" ou nas “novas” composições que
resultam do crescente e indispensável (!) respeito pelas escolhas das pessoas).