As crianças vivas fazem birras! E ainda bem! Birras no
supermercado, birras para não ir para a cama, para não comer a sopa, para não
fazer os TPC, para ver mais televisão ou não largar o tablet, etc., etc. E, muito compreensivelmente (atendendo às mil
e uma preocupações que vão tendo de gerir – do trabalho às contas para pagar,
das negativas do mais velho às birras do mais novo, passando pela saúde da avó ou
pela perda de um amigo próximo, por exemplo) nem sempre os pais conseguem estar tão
disponíveis e seguros quanto são capazes, na hora de mostrar as linhas
vermelhas que devem balizar as reivindicações das crianças.
Nessas circunstâncias,
uma ou outra vez, os pais apelam ao papão, ao senhor do saco, ao senhor polícia
ou até ao lado revanchista do Pai Natal (capaz de mirrar toda a magia com um só
saco de carvão). E isso é batota! Uma batota compreensível, mas batota! Ao
delegarem a sua autoridade nestas entidades mais ou menos estranhas estarão, nas
entrelinhas, a dizer aos filhos qualquer coisa como: “por mim até podias comer
só chocolates e nunca largar o tablet… mas contra o papão ou o homem do saco,
eu não posso fazer nada”. Ora, se as crianças vão olhando (e bem!) para os pais
como tendo um toque de super-heróis, capazes de tudo para as proteger, talvez não faça muito sentido dizer-lhes, ainda que nas entrelinhas: “olha que afinal não. Não
sou bem eu que tenho a força necessária para te proteger e te segurar venha o
que vier; para fazer por ti as escolhas que ainda não podes fazer sozinho, ou para
te pôr no sítio quando exageras. Há um tal de papão ao pé do qual eu não posso lá
grande coisa”. A ser assim, as crianças precisarão de superpoderes sim! Mas dos superpoderes humanos dos pais que têm
dúvidas e também se enganam; que às vezes também estão cansados e preocupados, mas
que, em circunstância alguma deixam de, em nome próprio, fazer valer o que
consideram ser o melhor para os filhos.