Por esta altura, muitos são os que vão suspirando pelas férias, enquanto vagueiam pelas fotos de praias de areias finas e águas cristalinas que os seus amigos parecem pôr de propósito no facebook só para, nestes últimos dias antes do merecido dolce fare niente, fazer o relógio andar ainda mais devagar.
Com o Xavier parece ser um bocadinho diferente. Casado e pai de duas filhas, decidiu procurar ajuda porque não gosta das férias: “tirar férias é um tormento. Comigo está tudo bem. Se não fossem as férias, estava tudo ótimo”. Pergunto-lhe se me pode explicar um bocadinho melhor, o que faz, tentando disfarçar a agitação: “ todos os anos vamos de férias para o Algarve. Quinze dias. A minha mulher e as miúdas querem ir para a praia, passear na marina à noite, fazer churrascos, essas coisas… Eu não aguento! No ano passado, tive de ir comprar uma pen para ter net móvel. Tinha de trabalhar! As coisas ficavam atrasadas. Quinze dias sem fazer nada é muito tempo. E elas depois andam sempre de má cara porque quero ficar em casa a trabalhar. Não entendem”.
Com o Xavier parece ser um bocadinho diferente. Casado e pai de duas filhas, decidiu procurar ajuda porque não gosta das férias: “tirar férias é um tormento. Comigo está tudo bem. Se não fossem as férias, estava tudo ótimo”. Pergunto-lhe se me pode explicar um bocadinho melhor, o que faz, tentando disfarçar a agitação: “ todos os anos vamos de férias para o Algarve. Quinze dias. A minha mulher e as miúdas querem ir para a praia, passear na marina à noite, fazer churrascos, essas coisas… Eu não aguento! No ano passado, tive de ir comprar uma pen para ter net móvel. Tinha de trabalhar! As coisas ficavam atrasadas. Quinze dias sem fazer nada é muito tempo. E elas depois andam sempre de má cara porque quero ficar em casa a trabalhar. Não entendem”.
O Xavier é um profissional de
sucesso. Trabalhador incansável, tem uma vida financeira estável, que lhe
permite manter uma boa casa, um carro familiar de alta cilindrada e um outro
utilitário, uma casa de férias no Algarve, colégios caros e atividades
extra-curriculares para as filhas, etc.
Mas não só as férias que o
inquietam. Os sábados passa-os a trabalhar. Aos domingos, depois do jogo de
vólei das filhas (passado, claro, a responder a e-mails de trabalho no i-phone)
e do almoço na casa dos pais ou dos sogros, esquiva-se para o escritório lá de
casa, adiando, uma vez mais, o passeio de mão dada com a mulher, ao entardecer.
À noite, por muito cansado que
esteja, tem quase sempre grandes dificuldades em adormecer. Ao ar amuado da
mulher por (quase) nunca o sentir ali, realmente perto dela, juntam-se as 1001
preocupações de trabalho. Estão sempre presentes, mas teimam em agudizar-se
quando apaga a luz.
Talvez o que o Xavier queira dizer, com o seu
apelo, seja qualquer coisa como: transporto tanta angústia dentro de
mim, que temo que a única forma de a ir fintando seja esta espécie de hiperatividade
funcional (no sentido que Sami-Ali lhe dá). Parar (seja para estar na praia ou
numa esplanada a gozar a brisa do entardecer) é ser, brutalmente, invadido por
ela. Talvez o que o Xavier queira dizer, com o seu apelo, seja que este registo
agitado e híper-funcional em que tem estado mergulhado, ao mesmo tempo que vai
(cada vez menos) fintando a angústia, o vai afastando, cada vez mais, de quem (a
mulher, as filhas, os pais, os amigos…) o pode ajudar a transformar a angústia
em palavras, as palavras em histórias e as histórias em vida. Se o Xavier
conseguisse ser mais claro, talvez tivesse dito: ajude-me a entender e a
transformar toda esta angústia, para parar de, à boleia do trabalho, fugir dela
e, com isso, afastar quem (a mulher, as filhas, os pais, os amigos, etc.) me
pode ajudar a desfrutar do trabalho, da esplanada, do pôr-do-sol… da vida.
Num mundo muito centrado na ideia de sucesso, corremos o risco desta espécie de hiperatividade funcional ser
valorizada. Num primeiro momento até pode representar, de facto, ganhos de
produtividade e um salto considerável no percurso profissional. Mas, à
semelhança do que alguns dizem acerca da dívida de alguns países do sul da
Europa, é insustentável a prazo. Correr por gosto não cansa. Já correr por medo
(o medo de que à falta de um registo híper-funcional que a sustenha, a
angústia tome conta de tudo), tenho para mim, dá maus resultados, a prazo.
Talvez por isso o ócio (dos passeios de mão dada na brisa da tarde, às
jantaradas de amigos, passando pelas reuniões familiares ou pelo dolce fare niente) seja fundamental para
nos apaixonarmos pelo trabalho e, muito mais importante do que isso, pela vida!
Nota: Atendendo ao profundo respeito pela intimidade das pessoas que me dão o
privilégio de guardar as suas histórias e aos princípios deontológicos a que
estou vinculado (de sigilo, nomeadamente), como não poderia deixar de ser,
este, como todos os textos do blogue - sendo, por vezes, inspirado num ou noutro aspeto de histórias reais, está muito longe de corresponder a uma descrição literal.