As novas tecnologias são uma bênção. Democratizaram o acesso à
informação. Permitem-nos contactar, de forma fácil e barata, com pessoas do
outro lado do mundo, etc., etc. Não há, por isso, nenhuma razão para não pensar
que não possam ser úteis em saúde mental (como uma medida, muito circunstancial,
de 1ª linha, por exemplo).
Mas (como muito bem lembrava uma cervejeira, num anúncio muito bem
conseguido, a propósito da amizade), em nenhuma circunstância, as novas
tecnologias substituem o contacto olhos nos olhos. É assim nas relações
pessoais. Acho, por maioria de razão, que é assim nas relações terapêuticas.
Perspetivar o tratamento da depressão (ou de qualquer outro sofrimento
condensado num quadro clínico) essencialmente em torno de uma plataforma online
é dar de barato que basta um quadro diretivo de indicações e monitorizações
para a tratar. E eu acho, convictamente, que está muito, muito longe de bastar!
Perspetivar o tratamento da depressão (ou de qualquer outro sofrimento
condensado num quadro clínico) essencialmente em torno de uma plataforma online
é passar por cima daquilo que me parece uma evidência: fomos feitos para
olharmos dentro dos olhos uns dos outros!
Parece-me que ninguém deprime à margem de experiências e relações
muito marcadas por mal entendidos que, por um ou outro motivo, fazem as pessoas
sentir-se mais ou menos abandonados, mais ou menos incompreendidos e mal-amados,
mais ou menos medrosas, mais ou menos incapazes…
A ser assim, parece-me que não há tratamento sólido e efetivo que
possa passar à margem de um espaço – olhos nos olhos - que permita, ao olhar
para dentro, reconstruir padrões de relação mais saudáveis (que, rapidamente,
se reflitam na relação consigo e com os outros significativos, com o trabalho,
o sonho, a esperança e o entusiasmo…). Dito de outro modo, acho que não há
nenhum programa online, por mais bem desenhado que esteja, que possa substituir
a relação inerente a uma psicoterapia ou acompanhamento psicológico.
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