quarta-feira, 29 de julho de 2015

Empreendedorismo sim! Mas...

Fui-me habituando a estudar em alguns artigos e manuais, primeiro, e a ver com a ponta dos dedos mais tarde, na minha vida quotidiana e, principalmente, no meu trabalho clínico que parece haver uma espécie de dinâmica interna que nos ajuda a amortecer os choques do mundo exterior e nos instiga a fazermo-nos à vida, mesmo nas circunstâncias mais adversas.
A este processo foi-se chamando, em algumas circunstâncias, resiliência. Fui-o imaginando como uma espécie de almofada que condensa a memória de todos os aqueles momentos ímpares em que nos sentimos rigorosamente no mesmo comprimento de onda de alguém, numa lógica de: “com abraços firmes como este para me abrigar a cada tempestade, podem chover picaretas que ninguém me pára!” Esta espécie de certeza interior inquebrantável, que nos instiga a mover montanhas e a enfrentar dragões, é fundamental!
Neste contexto, talvez faça sentido pôr uma tónica especial no discurso do empreendedorismo. Afinal de contas, em nenhuma circunstância, as pessoas deixam de ser corresponsáveis pelo seu percurso de vida. Mas, ao contrário do que um certo discurso às vezes parece querer dar a entender, o “fazer-se à vida”, sendo essencial, pode não ser suficiente para as coisas correrem bem. Quando abusamos da narrativa do empreendedorismo, talvez estejamos, todos, a construir um discurso excessivamente culpabilizante, muito pouco promotor da saúde mental e, paradoxalmente, muito pouco amigo do empreendedorismo, ferindo-o de morte, por overdose.
É, evidentemente, essencial “bater punho”, com alma e engenho, para ter sucesso. Mas, não creio que a fórmula simplista: “se não consegues emprego/sucesso é porque não tentas suficientemente” (que, no limite, poderá decorrer de certos discursos mais ou menos fundamentalistas), ao colocar o alfa e o ómega da responsabilidade exclusivamente no individuo, promova o empreendedorismo seja de quem for. E, mais importante: talvez esteja muito longe de se sintonizar com a humanidade das pessoas… a maneira mais efetiva (se não a única) de puxar verdadeiramente pelas suas competências.

(Inspiração: http://www.bbc.com/news/uk-30803492)

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