Parecia não ouvir uma palavra das minhas interpelações, enquanto jogávamos futebol. Ele fazia-o com muita arte, mas de forma quase displicente. Parecia estar com a cabeça em todo o lado menos naquele campo improvisado. Facilitei, de forma bem disfarçada (achava eu!) a entrada de um golo seu, para puxar pela competitividade. Nesse exato momento, aquele menino, aparentemente alheado, pára, olha-me nos olhos e diz-me: tu deixaste entrar o golo de propósito!
Fiquei gelado. Acho que nunca, até esse dia, tinha percebido tão bem o quão somos todos tão competentes a lermo-nos uns aos outros. Por mais desatentos que possamos parecer à primeira vista...
Nota: Atendendo ao profundo respeito pela intimidade das pessoas que me dão o
privilégio de guardar as suas histórias e aos princípios deontológicos a que
estou vinculado (de sigilo, nomeadamente), como não poderia deixar de ser,
este, como todos os textos do blogue - sendo, por vezes, inspirado num ou noutro aspeto de histórias
reais - está muito longe de corresponder a uma descrição literal.
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