Talvez o medo de que a filha deixe de precisar deles (como se os filhos
alguma vez deixassem de precisar dos pais!!!) esteja a enevoar o entusiasmo e o
orgulho que os pais da Bárbara sentirão no seu crescimento. Talvez estejam só,
numa fórmula encriptada, a dizer, cada um à sua maneira: “És preciosa na minha
vida. Tanto, que morro de medo que, à medida que vais crescendo, deixes de
precisar de mim. E se deixares de precisar, o que vai ser de mim?” Afinal, ser-se
capaz de ligar o complicómetro
para comunicar numa espécie de código Morse,
colocando no off a capacidade de dar
luz ao que sentimos, é uma “incompetência” que (todos) vamos treinando vezes de
mais.
Talvez a Bárbara esteja, ainda, a pensar, dentro de si como pode ser tão
clara quanto é capaz, com os pais. E a ganhar fôlego para, de uma assentada,
lhes dizer que nunca a filha mais nova (como os irmãos) vai deixar de precisar
muito, muito dos pais. Não para controlarem os seus passos (como quando era
pequena), mas para a empurrarem para o melhor dos seus recursos. Não para desdenharem
as suas escolhas (por mais pequeninas que sejam), mas para nunca deixarem de
estar atentos e lhe porem o dedo no nariz se alguma vez a sentirem a desistir
do melhor de si própria. E que, na volta, um és preciosa na minha vida; um
tenho tanto orgulho em ti ou um gosto
tanto de ti é tão mais eficaz na hora de mostrarmos às pessoas o quão são
fundamentais na nossa vida do que um: este
sofá não fica bem aqui; tenho de ir contigo comprar os candeeiros e o serviço
de loiça que tu não tens jeitinho nenhum! E que, já agora, estará na hora
de (re)descobrirem o sonho, o projeto e o futuro porque têm o direito (e já
agora o dever! porque, seja aos 5, aos 16 ou aos 40, aprende-se muito mais por
bons exemplos do que por bons conselhos) de serem muito mais do que pais da
mais nova, da mais velha e dos do meio.
Nota: Atendendo ao profundo
respeito pela intimidade das pessoas que me dão o privilégio de guardar as suas
histórias e aos princípios deontológicos a que estou vinculado (de sigilo,
nomeadamente), como não poderia deixar de ser, este, como todos os textos do
blogue - sendo, uma ou outra vez, inspirados num ou noutro aspeto de histórias
reais - está muito longe de corresponder a uma descrição literal.