domingo, 10 de fevereiro de 2019

Namorar o Amor!


Não havia música de fundo. (Só burburinho). Nem glamour. (Só fumo no ar). Nem flores. (Só amontoados de beatas nos cinzeiros). Talvez não fosse, de todo, o cenário que se imagina para ouvir histórias de amor. Mas foi ali, no último dia do ano, bem no meio de uma sala de fumo de um grande aeroporto internacional, que um jovem australiano, com a preciosa ajuda de uma bem-disposta senhora holandesa, mostrou que não há guetos nem interditos para as histórias de amor. O jovem viajava há mais de 24 horas. Aquela era a última escala antes de aterrar em Milão, bem a tempo de passar o ano com a belíssima italiana que mostrava, com orgulho, à senhora holandesa de cabelo grisalho e olhar ternurento. A senhora, num tom afetuoso e genuinamente preocupado, pergunta-lhe se a belíssima italiana sabia que ele ia. Ele descansa-a, assegurando-lhe que ela sabe, até porque queria que ela morresse de amor… mas nunca de ataque cardíaco! Explica-lhe que se apaixonara pela Francesca há um punhado de meses, em Adelaide, na Austrália e que, desde então, se tem desunhado para, literalmente, dar volta ao mundo só para poder cair no seu abraço.
   O burburinho tinha, entretanto, desaparecido. Não havia, naquela exígua sala de fumo, quem conseguisse tirar os olhos (e os ouvidos) do entusiasmo daquele jovem, de olhar brilhante e gestos inquietos. Uns olhavam-no com uma muito humana pontinha de inveja (como que perguntando-se: “mas porque é que nunca fiz uma coisa destas?”), mas com admiração (“Que grande tipo!”; “Que grande história!”), ternura (como que reconhecendo naquela bela história as próprias histórias em que, mesmo com menos pompa e muito menos circunstância, terão dado a “volta ao mundo” para namorar o amor) e esperança (como que, inspirando-se, para fazerem, mais e mais vezes, das suas relações amorosas uma espécie de volta ao mundo a dois). Outros, porém, não disfarçavam o sorrisinho cínico. Com a aspereza e a inveja de quem, há muito, desistiu de reclamar (e de lutar!) por quem lhe dê a volta ao mundo… todos os dias!

   Que o S. Valentim (com ou sem flores, presentes ou jantares à luz das velas) sirva para desconfinar as histórias de amor! E, com elas, a esperança, o desejo, a reivindicação e a luta (!) pelas voltas ao mundo que só o Amor consegue dar!

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