domingo, 21 de fevereiro de 2021

Autoestima: o Outro que mora em mim!

   Sente-se profundamente culpado. Inferior. Com defeito. Por não conseguir controlar a ansiedade. Nem a raiva ou o desamparo. Por não conseguir controlar milimetricamente o que sente e o que pensa. Por se sentir inseguro ou, como costuma dizer, por ter baixa autoestima. Insiste na ideia de que: se eu não gostar de mim, quem gostará?, ao mesmo tempo que dá a entender que ninguém o pode ajudar, para além dele próprio... gostando de si. 
   O Mário é um homem inteligente, sensível e sagaz. Mas assustado, muito assustado. E dominado por um profundo e difuso sentimento de desamparo. Mais depressa se pune por tudo o que não consegue, do que se permite sentir prazer ou orgulho por tudo o que foi construindo, sem alguma vez ter estado certo de com quem podia contar para lhe embalar o medo, aplacar os fantasmas ou parar os exageros. E, não menos importante: para o olhar dentro, com aquela profundidade de amor e orgulho capaz de fazer qualquer um sentir-se nada mais nada menos que o special one ... do mundo de alguém. 

   Sem dúvida que é importante sintonizarmo-nos com as nossas qualidades! E puxarmos por elas. Mas, frases batidas como: Ama-te a ti mesmo ou se eu não gostar de mim, quem gostará?, funcionando muito bem como slogans, (ainda que bem intencionados) correm o risco de se desencontrarem anos-luz daquilo que as pessoas sentem. Porque, ao contrário do que dão a entender, a relação com o outro é fundamental na forma como nos sintonizamos com o melhor das nossas qualidades. Como aprendemos com Winnicott, o olhar do outro significativo é determinante na forma como nos olhamos e olhamos o mundo. Ser amado será, assim, condição essencial para o ser humano se sentir amável e poder amar... de coração inteiro!
   A ser assim, muito mais do que apelar a uma autossuficiência (cúmplice da solidão e do desamparo), que o ser humano (felizmente!) nunca alcançará, estaremos a promover autoestima (e humanidade!) sempre que não desistimos de insistir em puxar para nós quem nos olhe dentro! 

Nota: Atendendo ao profundo respeito pela intimidade das pessoas que me dão o privilégio de guardar as suas histórias e aos princípios deontológicos a que estou vinculado (de sigilo, nomeadamente), como não poderia deixar de ser, este, como todos os textos do blogue - sendo, por vezes, inspirado num ou noutro aspeto de histórias reais - está muito longe de corresponder a uma descrição literal.

Sem comentários:

Enviar um comentário