Gosto muito do Natal. Sempre
gostei.
Mas ao lembrar-me de algumas histórias,
em que a melancolia e o sofrimento parecem andar lado a lado com o Natal, não
posso deixar de me perguntar: porque é que, para tantas pessoas, parece haver
uma espécie de anti-Pai Natal que, no saco, traz tudo menos magia?
Quase todos os filmes de Natal
que via em miúdo tinham, de uma forma ou de outra, uma cena que sempre me
impressionou muito. Tanto que as fui condensando a todas numa única imagem: um
tipo a vaguear sozinho pela cidade. De passo arrastado e olhar baço, segue sem
rumo. Até que pára mesmo em frente à janela de uma casa. Lá dentro, bem entre a
árvore e a lareira (não vão os presentes fugir!) os miúdos ouvem as histórias
que só o avô sabe contar, enquanto os pais, os tios e os primos mais velhos britam
nozes, comem doces e brindam com o melhor vinho tinto da garrafeira da família.
Os olhares brilham. Todos os olhares brilham. É noite de Natal!
Mas porque é que há alguns
olhares que teimam em fazer de tipo que olha de fora da janela, e ficam ainda
mais baços no Natal?!
Mas porque é que a “magia” do Natal parece acentuar
o desamparo no olhar de quem, na melhor das hipóteses, tem quem lhe embrulhe,
com enfado, o mesmo presente todos os anos, mas nunca, nunca, é capaz de lhe
“contar histórias” ou de lhe arrancar um “brilhozinho nos olhos”?!
Mas porque é que, às vezes, o
Natal parece pôr a nu uma fratura demasiado profunda entre as luzes, o
presépio, o senhor de barbas brancas que carrega um saco vermelho do tamanho
dos desejos das pessoas de todas as idades… e o acumular dos imensos pequenos
grandes nadas de quem nunca se sente olhado nos olhos?!
Mas, se até o avarento e gélido
Mr. Scrooge, do Dickens, se deixou contagiar pela magia do Natal, talvez o Pai
Natal, a esperança e o menino Jesus renasçam um bocadinho de cada vez que dois
olhares desembrulhados olham bem dentro um do outro.
Há 33 anos que idealizo um Natal que não sei se existe. E sempre que me sento à mesa na noite de consoada imagino como seja o Natal de tantas outras pessoas. Acho que é um misto de magia e melancolia...
ResponderEliminarMinha cara Manuela, acho que as idealizações (do Natal ou de qualquer outra coisa) são assim: demasiado perfeitas, distantes e direitinhas para serem humanas… Tenho a ideia de que o que é humano (até o Natal…), ao encurtar distâncias e trazer para perto, deixa ver os defeitos entrelaçados nas virtudes. Tenho a ideia de que o Natal (como qualquer outro aspeto da vida) tende a ser mais mágico quando integramos as contradições, as olhamos nos olhos e, ainda assim, fica a ideia (e o sentimento!) serena de proximidade.
EliminarFeliz Natal, minha cara amiga!