Vamos, em algumas circunstâncias, olhando para as emoções como se, de
repente, sem mais nem para quê, se pudessem transformar num qualquer material
perigoso, que nos tolda o bom senso e nos domina a razão. Talvez por isso,
vamos usando máximas como: “pensar com a razão e não com o coração”,
presumindo, como Déscartes, que as pessoas se podem partir ao meio: razão (e
cabeça) para um lado, emoção (e corpo) para outro. Como se, de repente, o
pensamento racional e as emoções não fossem processadas no mesmo cérebro e no
mesmo corpo, em circuitos e estruturas intimamente ligadas entre si.
Se, numa ou noutra circunstância particular, todos vamos procurando
camuflar o que sentimos, varrendo para debaixo do tapete emoções como o medo, a
raiva ou a tristeza, quando estes movimentos calcificam, tornando regra a
contenção emocional, tudo parece passar-se como se procurássemos,
invariavelmente, contrariar a natureza humana (e a biologia nervosa!) … não
sentindo! Tenderemos, nestas circunstâncias, a ficar mais alexitimicos (menos
atentos e capazes de ler e interpretar a emoção no outro e em nós próprios),
menos flexíveis, mais impulsivos (a prazo) e menos sintonizados com a saúde… e
com a relação.
A ser assim, talvez a questão nunca possa ser: como conseguir não
sentir (a raiva, o medo ou a tristeza). Mas antes (como Bion há muito chamou a
atenção) como é que podemos construir os espaços relacionais que nos ajudem a
pensar as emoções (vestindo-as de palavras e enredos simbólicos que as possam
ligar e interpretar), a geri-las e a comunica-las de forma clara.
A ser assim, as únicas emoções perigosas (seja por via da inibição, seja
por via da impulsividade e do agir destrutivo) talvez sejam aquelas que nunca
podem ver a luz do dia no espaço criativo de uma relação que as acolha e lhes
dê um sentido. A ser assim, muito mais do que matéria potencialmente perigosa,
as emoções serão um extraordinário manancial de sabedoria à espera de ser pensado…
para aproximar as pessoas!
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