Os bebés nascem muito antes do
parto!
Ganham vida, no coração dos pais, de cada vez que lhes sonham as
feições, as manhas, as qualidades ou as birras. Dão puladas de gigante de cada
vez que, entre o medo e o entusiasmo, lhes adivinham a bondade, as conquistas,
a inteligência ou a beleza. Este bebé imaginário (como lhe chamou Soulé)
encontrará o bebé real no parto e com ele seguirá vida fora, como que lembrando
aos pais a beleza da diferença e da autonomia.
Este sentimento de ter quem nos sonhe e se orgulhe de nós, antes mesmo
da nossa capacidade de sonhar, será indispensável para robustecer a indelével
capacidade humana de sonhar... e de partir do desejo e do imaginário para criar. Termos quem nos invista de afeto e expectativa
será fundamental para tonificar a autoestima, sem a qual dificilmente
agarraremos os desafios com vivacidade e brilho nos olhos. Termos quem, vida
fora, nos imagine impulsionará a nossa capacidade de transformar os sonhos em
projetos, e os projetos em ação intencional.
Se termos quem, vida fora, nos instigue à autonomia de sonharmos o nosso
caminho sem nunca deixar de nos fazer viver nos seus sonhos, nos faz dar
puladas de meter inveja a qualquer suplemento alimentar, já termos
quem nos aprisione nos sonhos e medos que nos delegou não deixará, nunca, de atrofiar
o melhor das nossas qualidades. Talvez seja sempre um bocadinho assim, quando a
alegria e serenidade de darmos o melhor de nós pelos nossos sonhos é
contaminada pelo travo doloroso de não sentirmos o orgulho das pessoas
fundamentais para nós. Com fórmulas mais ou menos mortiças do tipo: “já sabes
como ele é!”, lá vamos fingindo que não nos importamos, deixando o melhor de
quem nos é fundamental morrer um nadinha mais! Como se não fossemos capazes de,
com o melhor de nós, puxar o melhor do outro, num qualquer grito genuíno do
género: Sou diferente de ti! Faço
escolhas diferentes daquelas que farias por mim. Algumas serão erradas, mas são
as minhas. Ajudas-me a fazer melhor sem me aprisionares no fazeres por mim? Como
fui aprendendo contigo – mais por bons exemplos do que por bons conselhos – o
mais importante é não desistirmos de desbravar o nosso caminho, com a cabeça
completamente nas nuvens e os dois pés bem assentes no chão. E lutar, lutar de
coração cheio! E sim, preciso, e quero, quero muito (!) que te orgulhes de mim
por eu não desistir! E que mo digas! Que mo digas com a alegria com que
desconfio que dizes às minhas tias ou aos teus amigos na minha ausência.
Texto maravilhoso! Estou a adorar o blog. Talvez por ser recém.... Recém mamã, recém sonhadora de sonhos novos para bebé nascido muito antes de um parto. Parabéns,e obrigada por explicar tão bem o meu amor pelo bebe que (hoje) está no poder de fazer o que quer :-)
ResponderEliminarMuito obrigado pela simpatia do seu comentário! Seja muito bem-vinda a este espaço!
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