segunda-feira, 16 de abril de 2018

Orgulha-te de mim!

  Os bebés nascem muito antes do parto!
  Ganham vida, no coração dos pais, de cada vez que lhes sonham as feições, as manhas, as qualidades ou as birras. Dão puladas de gigante de cada vez que, entre o medo e o entusiasmo, lhes adivinham a bondade, as conquistas, a inteligência ou a beleza. Este bebé imaginário (como lhe chamou Soulé) encontrará o bebé real no parto e com ele seguirá vida fora, como que lembrando aos pais a beleza da diferença e da autonomia.
  Este sentimento de ter quem nos sonhe e se orgulhe de nós, antes mesmo da nossa capacidade de sonhar, será indispensável para robustecer a indelével capacidade humana de sonhar... e de partir do desejo e do imaginário para criar.  Termos quem nos invista de afeto e expectativa será fundamental para tonificar a autoestima, sem a qual dificilmente agarraremos os desafios com vivacidade e brilho nos olhos. Termos quem, vida fora, nos imagine impulsionará a nossa capacidade de transformar os sonhos em projetos, e os projetos em ação intencional.
  Se termos quem, vida fora, nos instigue à autonomia de sonharmos o nosso caminho sem nunca deixar de nos fazer viver nos seus sonhos, nos faz dar puladas de meter inveja a qualquer suplemento alimentar, já termos quem nos aprisione nos sonhos e medos que nos delegou não deixará, nunca, de atrofiar o melhor das nossas qualidades. Talvez seja sempre um bocadinho assim, quando a alegria e serenidade de darmos o melhor de nós pelos nossos sonhos é contaminada pelo travo doloroso de não sentirmos o orgulho das pessoas fundamentais para nós. Com fórmulas mais ou menos mortiças do tipo: “já sabes como ele é!”, lá vamos fingindo que não nos importamos, deixando o melhor de quem nos é fundamental morrer um nadinha mais! Como se não fossemos capazes de, com o melhor de nós, puxar o melhor do outro, num qualquer grito genuíno do género: Sou diferente de ti! Faço escolhas diferentes daquelas que farias por mim. Algumas serão erradas, mas são as minhas. Ajudas-me a fazer melhor sem me aprisionares no fazeres por mim? Como fui aprendendo contigo – mais por bons exemplos do que por bons conselhos – o mais importante é não desistirmos de desbravar o nosso caminho, com a cabeça completamente nas nuvens e os dois pés bem assentes no chão. E lutar, lutar de coração cheio! E sim, preciso, e quero, quero muito (!) que te orgulhes de mim por eu não desistir! E que mo digas! Que mo digas com a alegria com que desconfio que dizes às minhas tias ou aos teus amigos na minha ausência.

2 comentários:

  1. Texto maravilhoso! Estou a adorar o blog. Talvez por ser recém.... Recém mamã, recém sonhadora de sonhos novos para bebé nascido muito antes de um parto. Parabéns,e obrigada por explicar tão bem o meu amor pelo bebe que (hoje) está no poder de fazer o que quer :-)

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    1. Muito obrigado pela simpatia do seu comentário! Seja muito bem-vinda a este espaço!

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