Vamos, de uma
forma mais ou menos batoteira, olhando para o feitio como um facto consumado, mais
ou menos inevitável. Da mesma forma que
nascemos loiros ou morenos, tudo se passaria como se a genética determinasse,
por si só, se somos mais reservados ou mais expansivos; mais medrosos ou mais afoitos;
mais frios ou mais afetuosos; mais autónomos ou mais dependentes; mais ou menos
inteligentes, etc., etc. E, quanto a isso, não haveria muito a fazer. Afinal de
contas, como diria a Gabriela: “eu nasci assim, eu cresci assim…”.
Esta visão
determinista até pode servir para tentar encaixar toda a nossa humanidade numa
regra de três simples. Mas não servirá – parece-me - para tentar entender a sua
complexidade. Não que a herança genética
não seja relevante. Claro que é! Mas funcionará, para a maioria das
características humanas, de uma forma substancialmente mais complexa e
interativa do que aquela que Mendel observou nas ervilhas. A ser assim, muitas das nossas características
(a que fomos chamando feitio) vão sendo forjadas nas dinâmicas relacionais em
que, dia após dia, nos vamos construindo.
A ser assim,
guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) respeita os nossos ritmos e se
sintoniza com os nossos gestos mais espontâneos, contribuirá para que nos
sintamos mais competentes na hora de expressar ideias, angústias, necessidades ou
desejos. A ser assim, guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) nos ajuda a
transformar em palavras e atos a complexidade do que sentimos, deixar-nos-á mais
próximos de sermos capazes de ligar afeto, palavra e gesto. A ser assim,
guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) nos ajude a despertar a
curiosidade e o espanto perante a beleza e o conhecimento, deixar-nos-á mais
próximos da criatividade e do prazer de conhecer e brincar com os conceitos e
os pensamentos. A ser assim, guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) nos incita
a explorar o mundo, ao mesmo tempo que nos vai assegurando (muito mais por
gestos do que por palavras) nunca deixar de ser um porto forte e seguro a que poderemos
sempre voltar, tornar-nos-á mais aptos para a audácia e para a autonomia.
A ser assim,
a relação será (sempre!) aquilo que veste a herança genética, aproximando-nos
(ou afastando-nos) do melhor de nós!
Sem comentários:
Enviar um comentário