segunda-feira, 2 de julho de 2018

"Eu nasci assim"! Posso ser outra coisa?

  Vamos, de uma forma mais ou menos batoteira, olhando para o feitio como um facto consumado, mais ou menos inevitável.  Da mesma forma que nascemos loiros ou morenos, tudo se passaria como se a genética determinasse, por si só, se somos mais reservados ou mais expansivos; mais medrosos ou mais afoitos; mais frios ou mais afetuosos; mais autónomos ou mais dependentes; mais ou menos inteligentes, etc., etc. E, quanto a isso, não haveria muito a fazer. Afinal de contas, como diria a Gabriela: “eu nasci assim, eu cresci assim…”.
  Esta visão determinista até pode servir para tentar encaixar toda a nossa humanidade numa regra de três simples. Mas não servirá – parece-me - para tentar entender a sua complexidade.  Não que a herança genética não seja relevante. Claro que é! Mas funcionará, para a maioria das características humanas, de uma forma substancialmente mais complexa e interativa do que aquela que Mendel observou nas ervilhas.  A ser assim, muitas das nossas características (a que fomos chamando feitio) vão sendo forjadas nas dinâmicas relacionais em que, dia após dia, nos vamos construindo.

  A ser assim, guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) respeita os nossos ritmos e se sintoniza com os nossos gestos mais espontâneos, contribuirá para que nos sintamos mais competentes na hora de expressar ideias, angústias, necessidades ou desejos. A ser assim, guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) nos ajuda a transformar em palavras e atos a complexidade do que sentimos, deixar-nos-á mais próximos de sermos capazes de ligar afeto, palavra e gesto. A ser assim, guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) nos ajude a despertar a curiosidade e o espanto perante a beleza e o conhecimento, deixar-nos-á mais próximos da criatividade e do prazer de conhecer e brincar com os conceitos e os pensamentos. A ser assim, guardarmos dentro de nós quem (seja quem for) nos incita a explorar o mundo, ao mesmo tempo que nos vai assegurando (muito mais por gestos do que por palavras) nunca deixar de ser um porto forte e seguro a que poderemos sempre voltar, tornar-nos-á mais aptos para a audácia e para a autonomia.

   A ser assim, a relação será (sempre!) aquilo que veste a herança genética, aproximando-nos (ou afastando-nos) do melhor de nós!

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