Os avanços na psicofarmacologia
têm sido uma bênção para a humanidade. Já a ideia de que tudo (a falta de
desejo, a insegurança, a ansiedade, a tristeza, etc.) se resolve com um
comprimido mágico parece-me muito pouco razoável.
A
ideia de uma espécie de pílula do desejo feminino, mais ou menos
milagrosa, que pode resolver todas as dificuldades da vida sexual de um casal assenta,
parece-me, na conceção de que homens e mulheres serão assim uma espécie de
autómatos que têm de reagir a estímulos de forma mais ou menos indiscriminada.
Parece-me que esta ideia de que basta
um comprimido que mexa na bioquímica da sexualidade para, a seguir, tudo se
resolver na vida sexual e amorosa de um casal é pouco razoável. E muito ao jeito
do pensamento mágico do Popeye e dos seus espinafres com superpoderes. Por mais
que um comprimido possa ajudar numa ou noutra circunstância muito específica,
talvez o essencial do desejo não possa mesmo passar à margem de um olhar mais
relacional. Antes de nos focarmos na bioquímica, talvez valha a pena perceber:
se aquele homem e aquela mulher continuam a erotizar
a relação ou se se deixaram resvalar, por atos e omissões, para uma espécie de
cumplicidade fraternal;
se aquele homem e aquela mulher investem e convivem bem com o próprio corpo;
se aquele homem e aquela mulher investem e convivem bem com o próprio corpo;
se aquele homem e aquela mulher ainda se arrepiam com
o toque do outro ou sentem-no, pelo contrário, como uma espécie de invasão
consentida;
se aquele homem e aquela mulher estão atentos ao
outro ou, pelo contrário, há muito que se viraram para dentro, a braços com
sofrimentos e fantasmas que não encontram espaço de partilha (e de reparação).
Talvez
por isso, não faça muito sentido – parece-me – olhar para as dificuldades da
vida sexual como a principal fonte dos desencontros de um casal. Talvez seja um
bocadinho ao contrário: talvez a vida sexual não seja, muitas das vezes, mais
do que o reflexo da qualidade da relação. A ser assim, mais do que com comprimidos,
talvez as dificuldades sexuais daquele homem e daquela mulher, se desvaneçam
quando (re)começarem a olhar dentro dos olhos um do outro.
(Inspiração: http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-08-22-Viagra-feminino.-Mulheres-e-homens-tem-cerebros-diferentes-amor-e-mimo-contam-muito
)
Nota: Atendendo ao profundo respeito pela intimidade das pessoas que me dão o
privilégio de guardar as suas histórias e aos princípios deontológicos a que
estou vinculado (de sigilo, nomeadamente), como não poderia deixar de ser,
este, como todos os textos do blogue - sendo, por vezes, inspirado num ou noutro aspeto de histórias
reais - está muito longe de corresponder a uma descrição literal.
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